Em Agosto de 2004 saiu um artigo no Jornal Expresso que expressava a opinião do Dermatologista Francisco Manuel Ribeiro de Miranda sobre o estado da Psicologia. Confesso que me senti insultada e que no final de ler o artigo senti uma imensa vontade de responder. Após alguns momentos de reflexão passou-me uma questão pela cabeça. Será que mais gente pensaria assim? Em resposta a esta dúvida, alguns dos nossos docentes da UM disseram que às vezes é melhor não dar atenção a este tipo de atitudes, até porque parecia óbvio que este senhor teria tido uma experiência muito má com algum psicólogo ou como dizia alguém num artigo de resposta no mesmo Jornal: “Espero que as opiniões que desenvolveu se tenham destinado unicamente a uma necessária, por vezes, descarga de bílis, e não a uma pensada contra-informação…”
Ainda assim, esta resposta não me deixou satisfeita, apenas descansou um pouco o meu ego profissional pelo desprezo aparente às ideias transmitidas no artigo. Por isso este post será dedicado ao artigo do Dr. Francisco Miranda.
Uma das coisas que esse artigo revela é que o seu autor pouco ou nada percebe de Psicologia. Afirmações como: “A Psicologia vive ainda hoje numa atitude redutora e quase dependente do pensamento de dois homens, Freud e Piaget (…)” ou “temos psicólogos em Portugal que se formam sem convicção” (como se isso não acontecesse igualmente na profissão dele!!!) ou então o famoso: “Muitos dos alunos que dão entrada nas Faculdades de Psicologia fazem-no em última opção, depois de não conseguirem média de entrada em Medicina, Farmácia, Veterinária e Enfermagem” (e já agora Ciência Biomédicas, não? Será que o Dr. Sabe que a média de entrada em Enfermagem é inferior à nossa?), deu-me vontade de rir até às lágrimas, tentando adivinhar que medicamentos andaria este senhor a tomar.
E tenho a dizer-vos que estas são as que fazem rir…porque há as que fazem corar de incredulidade, como por exemplo: “As prisões (…) vão-se transformando lentamente em hotéis e é patético ver psicólogos a pintar as celas dos presos de azul e com florzinhas «para o seu bem-estar», enquanto que os terrenos agrícolas das prisões definham com silvas e ervas daninhas” (será ele já visitou algum estabelecimento prisional? È que eu já e não vi florzinhas nas celas nem planos para tal) ou então “muitos psicólogos imprimem na sociedade uma dicotomia perversa: quem trabalha é um prostituto, cujo único direito e dever é pagar impostos; quem nada quer fazer, quem vive de manigâncias, tem direito ao respeito, compreensão e subsídios públicos sem qualquer obrigatoriedade e contrapartida”.
Este senhor remata o artigo dizendo que seria melhor pararmos de patrocinar as faculdades de psicologia e transformar tudo num instituto de investigação, rendendo homenagem aos psicólogos que “trabalham humildemente dentro da psicologia possível”. No meio ainda nos acusa de sermos responsáveis pelo estado caótico da educação, pelo clima familiar e outras aberrações. Porque meus amigos…nós somos capazes de mudar o mundo, ou não tivéssemos uma varinha mágica e um caldeirão atrás do divã dos nossos gabinetes!!!
Este post já está um pouco grande demais para abordar aqui a resposta do Presidente da Associação Pró-Ordem dos Psicólogos, que consegue responder muito bem às concepções deste senhor. Por isso, aconselho a leitura no site da associação.
sábado, janeiro 08, 2005
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7 comentários:
Quem não conhecer o artigo que mande um mail para mim que eu envio...ele não está disponível online.
que giro, eu concordo com algumas coisas proferidas pelo homem, já que penso que arrogancia dos alunos de psicologia em relação ao facto de o serem, é de veras preocupante... daí que na minha opinião este artigo mais não é do que uma lição de humildade muitas vezes necessária aqueles que por tirarem um curso já pensam que são deus e que conseguem ler pensamentos!!!!
Eu psicólogo vou ser!!! mas não vou ser mais inteligente, mais critico, mais senhor da razão por isso.
Concordo plenamente quando quando falas da arrogância de alguns alunos. No entanto, esqueceste um ponto importante...não podemos julgar a profissão pela arrogância de uns, mas pelo potencial que os bons profissionais têm para dar ou então estaremos a colocar tudo no mesmo saco. Uma licenciatura não dá um atestado de inteligência a ninguém e todas as profissões têm bons e maus profissionais.
A humildade de que falas também se aplica à profissão do autor do artigo, por isso mesmo achei de mau gosto a abordagem feita à psicologia...Dá a ideia que ou somos uns coitadinhos que se colocam no seu devido lugar ou somos uns arrogantes que têm a mania que sabem tudo!!Não pretendo ser mais inteligente, mais crítica, ou mais senhora da razão por ter esta profissão...mas também não pretendo me calar quando alguém diz que a psicologia se resume a Freud e a Piaget e que nós gostamos é de baralhar as ideias às pessoas
Meus amigos (sobretudo tu, jovem que dizes concordar com esse senhor): peçam o artigo completo à Carla. Eu li-o na altura e fiquei a espumar!!! Justiça seja feita à Carlinha: esla escolheu bem umas quantas pérolas da ignorância do Dr, mas o todo é sempre mais que a soma das partes, por melhor escolhidas que elas possam ser.
E lido o todo, não há margem para contemplações: o Dr. é um ignorante mal formado, que se arroga o direito de vilipendiar toda uma classe, sabe-se lá com que autoridade. Farta-se de dizer asneiras que só mostram que não faz ideia (a mais pálida que seja) sobre o que fazem os psicólogos. E quem estava mesmo, mesmo, mesmo, a precisar de uma lição de humildade, era ele.
Sem pretender, por ser psicóloga, ser dona da verdade ou vidente ou revolucionária social, tenho, por isso mesmo, a humildade de não me pronunciar sobre a Dermatologia, ou os autores que esta segue. Se o fizesse, ia dizer asneira de certeza, por isso não digo. O Dr., apesar da sua manifesta ignorância acerca da Psicologia, não teve grandes problemas em falar do tema como se ele, sim, fosse o Iluminado que pode mostrar-nos a todos o caminho.
Veja-se que, do pouco que sei da Dermatologia, (que ainda assim deve ser mais do que o referido Dr. sabe de Psicologia - sim, porque eu, ao menos, frequentei o curso dele, não me parece que ele tenha cursado o nosso...), essa é uma das especialidades mais especulativas da Medicina, por isso, o referido Dr. devia saber alguma coisa sobre a relatividade da verdade e a construção com telhados de vidro. Isso não quer, de modo nenhum, dizer, que a Dermatologia não faça falta e deva ser reduzida a um laboratorio de investigação, até saberem porque é que os tratamentos funcionam. Eu admito que esse saber; diferente do nosso; especulativo e tentativo, tantas vezes, tal como o nosso; tem o seu próprio valor insubstituivel e uma inegável utilidade. Isso é que é humildade. Dar a César o que é de César, nem mais nem menos.
Certamente que não somos os donos da verdade. Mas esse Dr. também não. Temos falhas, temos ovelhas negras, mas isso não faz da psicologia aquilo que o Dr. pinta. Se fizesse demitia-me hoje e aconselhava todos os alunos de psicologia que conheço a mudar de vida enquanto é tempo.
é claro que eu concordo apenas com algumas coisas que ele diz, não com os alicerces em que se fundamenta. Que muita da intrevenção pensada em psicologia, não passam de tentativas utopicas de pessoas que pensam ser senhores do saber, é um facto, e a falta de convicção de grande parte dos alunos de psicologia ainda mais obvio é, por 60% dos alunos nem têm qualquer contacto com a realidade...
Ainda não percebi muito bem essa das tentativas utópicas...mas mais uma vez acho que se está a generalizar demais as coisas.Se formos pensar que a maioria das intervenções são treta e que não servem para grande coisa a não ser para encher o ego de determinadas pessoas então mais valia mudarmos de curso. Cabe-nos a nós, como psicólogos, saber distinguir o trigo do joio e ter consciência que as pessoas são diferentes e que vão reagir de modo diferente às mesmas intervenções. A intervenção não é um comprimido que se toma e que acaba com as "dores", é um processo que exige tempo e disponibilidade (de parte a parte)...É preciso ter cuidado com a ânsia de querer mudar muito em pouco tempo.
Em relação à vocação...acho que a resposta da Sílvia foi suficientemente esclarecedora...
A ideia é óptima e o blog está bem construído mas se não saem posts isto perde a dinâmica.
Abraço
Nuno
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