A escola Chinesa I

Um dia destes vi um documentário na BBC 4 sobre a escolaridade na China. Fiquei fascinada… ainda não sei se no bom ou no mau sentido… o documentário abrangi o primeiro ciclo (mais propriamente o 1º ano) e o ensino secundário em zonas citadinas que estão rodeadas de aldeias mais isoladas (algumas a quatro horas ou mais de viagem de autocarro por estradas de terra batida). Como não é possível falar de todos num só post, hoje falo apenas do 1º ciclo.
O governo chinês comprometeu-se há uns tempos atrás a melhorar as condições de acesso ao ensino de crianças que vivem em locais isolados. As escolas das aldeias funcionam de uma forma mais ou menos informal, em alguns sítios, as crianças têm apenas duas horas de aulas por dia e depois vão para o campo com os pais. O resto já sabemos… ciclo vicioso: as crianças não têm acesso ao ensino, não saem da aldeia e perpetua-se o ciclo da pobreza. Contudo, não seria possível mudar tudo de uma vez, ou seja, colocar escolas nas aldeias, então o governo criou um sistema de selecção de crianças, uma criança por aldeia é seleccionada para frequentar a escola (aquela da cidade que falei à pouco).
Depois do processo de selecção, as crianças são levadas pelos pais para a tal escola. Ahhh… esqueci o pormenor de serem umas 40 ou mais crianças na sala de aula. Aos pais são pedidas indicações de alimentação, rotinas, etc. e os meninos são sentados nas suas cadeirinhas e os pais ficam atrás na sala (a partir daqui confesso que sofri um choque). À chamada do nome da criança, os pais saiam porta fora, sem despedidas, sem beijos, sem nada… as crianças com ar confuso (tal como eu) choravam baba e ranho sem perceberem nada. Explicação: as crianças ficavam na escola, patrocinadas pelo governo… ali estudavam, dormiam, comiam, etc. A primeira semana foi mais dramática, consultas médicas para perceber se alguma criança tinha doenças infecto-contagiosas (se assim fosse, teriam de abandonar o programa), ensinar rotinas, sem aulas. Apenas para as crianças terem tempo de se adaptarem.
A partir desta semana, as crianças entram na rotina, levantar, arrumar, lavar os dentes – tudo isto ensinado às crianças na primeira semana, pequeno-almoço (reforçado para as crianças que apresentavam malnutrição), aulas, almoço, lavar os dentes (desta vez com copo e escova no passeio da escola!), aulas, jantar, cama. O que mais me fascinou, foi o modo como eles encaravam as crianças, um misto de criança e adulto… o discurso era fabuloso (A – adulto, C – crianças):
A: “então… quem vai fazer a vossa cama?”
C: “nóóóóóss”
A: “Clarooo, agora já são crescidos!!! Então vamos lá. Uma dobra para a esquerda, outra para a (…)”
E o discurso continuava. A discussão das regras foi fabulosa, os putos atentos e a professora a falar de moral, de boas maneiras, a dar exemplos, os putos riam-se, achavam engraçado, ela ria-se com eles mas sempre como figura de autoridade inquestionável. Carinhosa mas sem mimos (mimos são para os bebés). Havia um dia específico para as crianças falarem sobre os erros que cometeram e pedir desculpa aos colegas. As crianças eram encorajadas a admitir os seus erros (por exemplo, se bateram num colega e porque bateram), com os colegas de turma todos a participarem, dava pouca margem para se escapulirem com um “não fui eu”, no final do pequeno faltoso falar, as crianças todas batiam palmas de encorajamento (era assim mesmo que lhes chamavam) por ele ter sido corajoso de admitir o erro.
Isto pôs-me a pensar… porque é que funciona tão bem com eles? Eu sei que é cultural, mas a cultura também se molda… o que leva aqueles pais a darem uma importância vital à escola? O que mudou cá?
(continua)